A ENCANTARIA AMAZÔNICA NA UMBANDA- PARTE II: AS TRÊS IRMÃS DA LÍNGUA FERINA

27/02/2013 20:58

 

 

 

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"São três irmãs da língua ferina, uma Mariana, outra é Herondina e a outra é Toya Jarina..."

Representações:

 

 

 

 

 

Alanna Souto

Msc. História Social da Amazônia

 

Pensar, proferir, retratar, redigir sobre estas três sábias e amadas irmãs da encantaria amazônica: Mariana, Jarina e Herondina, está deveras longe de qualquer conceituação definitiva ou objetiva, assim como qualquer análise feita referente ao sagrado e seus mistérios que acabam por fugir de nossas mentes racionais, pois muitas vezes  nos deixamos levar pelas armadilhas do excesso de “intelectualismo”, vulgo EGO. Nesse sentido, o caminho que vou trilhar agora será muito mais abstrato do que concreto ou exato. Expressarei, assim de forma mais pessoal, como vejo e sinto essas entidades, seus arquétipos e representações, as maneiras que atuam em seus trabalhos magísticos divinos.

No culto religioso “tambor –de- mina”, as caboclas, Mariana, Jarina e Herondina são creditadas pela maioria de seus praticantes como turcas encantadas, princesas, que vieram fugidas daquela região em função do conflito bélico das cruzadas, a primeira ocorrida na terra santa em torno de 1099, desembarcaram nos lençóis maranhenses, atravessaram os portais e “se encantaram”. As princesas chegaram à Ilha dos lençóis, um pouco antes do desaparecimento do rei português dom Sebastião e de sua caravela na batalha de Alcacequibir em 1578, em luta contra os mouros, e que os portugueses acreditavam que um dia voltaria, os quais também “se encantaram” nos lençóis maranhenses, reza tais “lendas” e que estão vivas até hoje na memória dessa religião. A luta dos cristãos contra os mouros, tão trágica ao imaginário português, se transformou em mitologia religiosa, só que dessa vez os turcos da encantaria são agora aliados, não inimigos. Elementos da encantaria amazônica, lembra Reginaldo Prandi, como as histórias de botos que viram gente e vice-versa; “lendas” de pássaros fantásticos, de sereias e iaras, tudo isso foi compondo, ao longo do tempo, a religião que se convencionou chamar encantaria ou encantaria do tambor-de-mina, no Maranhão e sua vertente paraense, aonde muito de suas entidades e batuques sagrados foram captados pela Umbanda amazônica.

Contudo há algumas vertentes de umbandistas do Pará que alegam que das três irmãs da língua ferina, duas nunca tiveram vida terrena, que são as caboclas: Mariana e Jarina, originárias dos reinos de aruanda, sendo que a cabocla Herondina seria uma espécie de irmã adotiva e sua última encarnação terrena teria sido como romana na época da proliferação do cristianismo nessa região. Enfim, mas o que interessa aqui não são as verdades ditas de cada culto religioso ou templos sobre essas encantadas, e sim como elas estão representadas nas linhas da Umbanda e seus trabalhos magísticos na lei divina em ação.

Inicio refletindo sobre a cabocla Mariana que das sete linhas da Umbanda Sagrada, atua geralmente na linha co-criadora de geração, que tem no comando no âmbito feminino Yemanjá e sendo comandada por esta Yabá, realiza muitos trabalhos dentre tantos, em especial, de prosperidade e harmonia no campo da criação, seja profissional, intelectual ou mesmo no campo das artes, uma entidade que transpira e nos dar inspiração para criar , inovar em nossas vidas em todos os aspectos e até mesmo gerando e curando vidas, realiza auxílio e cura para muitas mulheres com problemas durante a gravidez e pós-parto. Seu arquétipo apesar de maternal carrega a dubiedade da sereia, encantadora e doce em seu aspecto feminino e arredio no seu aspecto de peixe [calda], combativa como os mares bravios de Yemanjá, despachada e direta, não têm papas na língua e seu animal de força é arara... É uma das caboclas mais alegres e expressivas da encantaria amazônica. Não é a toa que um dos seus pontos cantados diz: “É uma turca mal criada, nascida na Alexandria, é uma cabocla guerreira, filha do rei da Turquia...”

A cabocla Jarina, também, segue esse aspecto simbólico festivo e agitado como a sua irmã cabocla Mariana, contudo vem no geral na linha do amor que tem no comando no âmbito feminino mamãe Oxum, como bem canta o ponto: “Toya Jarina seu terreiro não cai porque mamãe Oxum está no congar”. Sendo assim é muito reconhecida pelos seus trabalhos de harmonia e união dos casais e famílias, quando há, de fato, amor de casal entre os cônjuges e não só pelos filhos ou pelo apego a conveniência moral ou material ou ainda o desejo amoroso apenas de uma das partes ou mesmo por carência afetiva , quando é assim ela desencadeia sutilmente por meio de aconselhamentos através do aparelho [médium] no templo ou por meios dos sonhos e/ou até mesmo intervindo em parceria com outros mestres no auxílio de fatos conflituosos , em especial no campo emocional, com intuito sempre de mostrar os caminhos do amor genuíno, da harmonia e do equilíbrio ao paciente ou seu filho de cabeça em suas vidas de vigília, até o véu da ilusão desmanchar de vez, nem que seja em reencarnações futuras, afinal ninguém sai da roda de samsara enganando a si mesmo. Tendo a cobra como animal de força, simboliza ainda, a cura, a renovação, a flexibilidade e a sagacidade.

E por fim a grande e magnífica guerreira amazonas cabocla Herondina, líder de ponta dos povos de Caruê na encantaria amazônica [esse povo é pertencente à linha dos felinos, o que quer dizer, obviamente que tem como animal de força, os felinos, muitas vezes se manifesta ou se transformam nesses animais no “astral”, como já foi descrito por muitos videntes], atua sob o comando de mãe Oiá [Iansã], orixá feminino que atua na linha da justiça junto com Xangô e na linha de lei junto com Ogum. Mãe Herondina é muito reconhecida pelos seus trabalhos quebrando demandas, desfazendo baixas magias, desativando “bombinhas” e até mesmo curando seus pacientes ou filhos de cabeças de larvas astrais, oriundas muitas vezes de trabalhos magísticos perniciosos fruto em geral do desespero, da mágoa, dos recalques, sentimentos mal resolvidos, enfim, da pequenez humana. Além do arquétipo da guerreira é bem menos “faladeira” que as outras irmãs; austera apesar de acolhedora e muito protetora, em especial, com seus filhos de cabeça. Cabocla Herondina lembra muito a carta no. XI do tarot , a força, a qual é representada por uma mulher subjugando elegantemente um leão, assim como geralmente se “manifesta”, acompanhada sempre de sua onça preta ou pintada. Ou seja, simbolizando determinação e autocontrole, o controle dos instintos e o equilíbrio interno; ela pode ser relacionada, ainda, com as cartas no. IX, o Eremita, o solitário caminho sabedoria e a carta no. I, o mago, o iniciado, lembrando assim exu, que é a linha esquerda da Umbanda. 

Não obstante dessas três caboclas, a cabocla Herondina é a única que atua como exu nos dias de trabalho dessa linha, guardando, protegendo, abrindo os caminhos e executando a lei, assim como todos os bons guardiões, exus e pombas-giras. Em sua linha virada, Herondina em Ganga canta bravamente: “Deu uma ventania em ganga no alto da serra/ É ela oh, Herondina oh ganga / Que vem vencer a guerra”.

Muitas são as representações, “olhares” e simbologias que rondam essas três famosas encantadas da encantaria amazônica, assim como outros diversos trabalhos magísticos que executam e até mesmo os quais desconhecemos, aqui destaquei apenas alguns elementos que envolvem o universo divino e misterioso dessas irmãs, longe de qualquer verdade absoluta.

Salve a encantaria sagrada! Salve as três irmãs!

Tópico: A ENCANTARIA AMAZÔNICA NA UMBANDA- PARTE II: AS TRÊS IRMÃS DA LÍNGUA FERINA

Re:Cabocla herondina

ANA RACHEL ARAUJO 26/03/2020
elas eram princesas da Turquia, Mariana é a princesa chefa do tambor de Mina, Princesa Madalena, Thoya Jarina é a princesa Maria Leonor e a Cabocla Herondina é Princesa Helena

Irmãs?

Camila 14/10/2017
É só prestar atenção nos pontos cantados delas. Como podem ser irmãs se cantam que "nasceram" em lugares diferentes e cantam para reinados de pais diferentes? Acho que isso não tem fundamento... é só ouvir com atenção, elas explicam no ponto cantado povo. Prfv !!

Re:Irmãs?

Diego 09/11/2017
Assista o documentário "a descoberta da Amazônia pelos turcos encantados" , que você vai entender porque elas cantam para reis diferentes

Re:Irmãs?

raiane 13/11/2017
cantam diferentes pontos por causa de suas vidas passadas e tbm por suas personalidades diferentes, no caso de dona Mariana há quem diga que ela estava em sua primeira encarnação quando se encantou ela vem pelo Mar pq nunca quis ser comandada, ela nasceu para governar por isso decidiu viver no mar pq no mar não pertence a ninguem, como já muitas vezes ela dizer "EU ME BASTO", JÁ DONA HERONDINA é sempre muito seria é a mais fechada das tres irmãs mais antes de vir como turca em meados de 1500 ela teve pelo menos 1 encarnação foi uma amazona em roma no inicio do cristianismo nesse mundo, já dona JARINA que era a irma mais nova das tres acredito, eu que estava em sua primeira encarnação dessa terra, deduzimos isso pq não há relato de vidas passadas para a dona Jarina e nem para a dona Mariana mas isso não que dizer que não sejam irmãs, até mesmo porque na ARuanda todas as entidades como irmãos seguindo o ensinamento de fraternidade.... Vamos estudar para poder ter argumentos convincentes.

Re:Re:Irmãs?

Raquel 27/11/2017
Gostaria de saber ser dona Jarina é uma índia ou não e se e verdade que ela se encantou em uma cobra

Re:Re:Re:Irmãs?

Márcio rodrigo 13/01/2018
Sim ela é uma india

Re:Re:Re:Re:Irmãs?

ISABELA 21/02/2019
ELA VEM COMO ÍNDIA(CABOCLA) E COMO PRINCESA (TOYA JARINA)

Irmãs sim.....

Nilson Silva 29/01/2018
Devemos nos atentar a uma coisa: quando falamos irmãs podemos nos reportar que são filhas do mesmo pai, mas não da mesma mãe, pelo simples fato da Poligamia ser algo natural na época antiga, é muito complicado hoje as pessoas tentarem assimilar ou perceber que são três essências diferenciadas mas que convergem dentro do contexto Amazônico. Todas foram criadas juntas na infância, até depois da adolescência, porém foram separadas pela ironia do destino, onde cada uma foi acolhida em diferentes lugares com culturas diferentes e povos também , uma na praia do lençol domínio de Rei sebastião, outra no Reino do Junkal e outra nos Mares e Oceanos onde teve como principal domínio as águas.
No final de tudo, todas se encontram no tambor de mina, são irmãs criadas juntas, filhas de mesmo pai e com histórias diferentes.

Re:Irmãs sim.....

Brunasouzabs1717@gmail.com 12/05/2018
Mariana afirma que não é filha do mesmo pai que suas irmãs e por isso fala que sua fisionomia é diferente de suas irmãs! (Dito por ela própria).

pomba gira rosa branca

eduardo 27/09/2017
queria saber se alguem sabe dessa entidade me falaram que ela trabalha com os encantados do tambor de mina
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